De pés descalços e com uma rede para compor o
cenário do gabinete, Bruno de Mendonça Braga, de 34 anos, discorre com precisão
sobre o percurso acadêmico que o levou de um aluno que “não gostava muito de
estudar”, na escola, a pesquisador do IMPA.
Ele confessa que muita coisa mudou ao longo dos
anos: passou a gostar tanto dos estudos que recheou o currículo com uma
graduação, um mestrado, dois doutorados e dois pós-doutorados.
Com 25 artigos científicos publicados e palestras em mais de 50
conferências de países como Canadá, França e Chile, o pesquisador reconhece que
foi cada vez mais atraído pela diversão dos problemas “bonitos” da matemática.
“Devo admitir que faço matemática de forma um pouco ingênua. Para
mim, fazer Matemática é um pouco como brincar de quebra-cabeça não pensando
muito na utilidade dele. Acho certos problemas bonitos e intrigantes e, por
esses motivos, tento entendê-los e resolvê-los.”
No instituto desde janeiro deste ano, ele ainda não teve tempo de
preencher todas as prateleiras com livros, mas lá está o exemplar “Functional Analysis do
Bachman e Narici”, sobre análise funcional, sua área de especialização. O
livro foi adquirido no verão de 2009, quando participou do curso ministrado por
Benar Fux Svaiter.
“Comparado com o que eu havia visto na UFRJ, havia um número muito
grande de pessoas fazendo funcional, uma matéria de doutorado aqui no IMPA.
Achei uma comunidade muito ativa, engajada,
querendo aprender. E estudei por esse livro aqui, que o Benar usa no curso”,
relembrou, enquanto folheava a obra e mostrava a data e assinatura na primeira
página.
Na época, ele era aluno do curso de graduação na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ainda não havia estudado sobre o tema que,
com os anos, se tornou uma paixão. “É difícil explicar porque gosto de análise
funcional. Apenas gosto! Acho muito bonito. Comecei a gostar de análise e
geometria por serem coisas mais visuais, que davam pra desenhar. Além disso,
sou um pouco atraído por um certo nível de abstração e o fato de pessoas na
área estarem trabalhando com a geometria de espaços de dimensão infinita me
pareceu muito divertido”.
Quadrinhos e bicicleta marcaram a infância
Filho de uma médica e de um engenheiro, Braga passou parte da
infância no Rio de Janeiro, onde nasceu, e também em Rio Branco (AC) e Curitiba
(PR). Entre os 7 e 10 anos de idade, morou no Acre com a mãe, onde viveu grande
liberdade. “Os anos no Acre, para mim, foram maravilhosos. Lá eu andava de
bicicleta na rua e mal avisava a minha mãe sobre a hora que iria voltar. Aqui
no Rio, eu morava em Ipanema e mal podia sair de casa sozinho.”
De volta ao Rio de Janeiro desde 2022, quando assumiu a posição de
professor da PUC-Rio, o matemático ainda aprecia a bicicleta como meio de
locomoção. Agora, trabalhando no IMPA, ele faz o percurso Copacabana-Horto
sobre duas rodas. “O trajeto da minha casa ao IMPA tem sido uma das melhores
coisas do meu dia! Eu me locomovo de bicicleta, então sempre passo pela praia e
pela Lagoa [Rodrigo de Freitas]. Devo admitir que estou ‘roubando’, porque
comprei uma bicicleta assistida, já que meu físico de atleta não aguentou o
percurso na magrelinha”, brincou.
Apesar de atualmente passar grande parte do tempo explorando
diferentes aspectos da sua pesquisa, Braga confessa que não tinha uma
inclinação forte para os estudos na escola. “Sempre gostei de matemática, era a
minha matéria favorita. Mas nunca fui um aluno muito dedicado no resto. Não
gostava muito de escola, achava meio chato, ia para passar o dia lendo
histórias em quadrinhos escondido dos professores (HQs). Só fui pensar no que
fazer da vida no último ano do ensino médio.”
Chegou a cogitar se tornar autor de HQs e só optou pela matemática
após estudar livros de cálculo por conta própria, tema que considerava
“divertido”. “Odiava a escola, mas adorei a graduação. Foi uma experiência
maravilhosa”, disse.
O matemático concluiu a graduação na UFRJ em 2009 e fez mestrado
simultâneo pela mesma universidade, sob orientação de Nicolau Saldanha, da
PUC-Rio. “Não tinha ideia da área que queria seguir ao fim da graduação. Mas,
desde que entrei na faculdade, comecei a fazer análise e álgebra. E, bem
rapidamente, percebi que eu achava análise muito mais legal. Tem figuras, é
mais geométrico e visual.”
Braga passou 12 anos na América do Norte
Em 2010, meses após finalizar o mestrado na área de topologia
algébrica, embarcou para os Estados Unidos, onde cursou o doutorado na
Universidade de Kent State (KSU), em Ohio. Desta vez, escolheu a área de
análise funcional, um dos fortes da KSU.
Foto: Reprodução - Impa |
No primeiro ano por lá, conheceu
a cazaquistanesa Masha Brussevich, hoje sua mulher, que é
economista. Mas ela logo se mudou para outro estado e, para diminuir a
distância, Braga transferiu o curso para a Universidade de Illinois em Chicago
(UIC). Na UIC, trabalhou com o pesquisador Christian Rosendal até concluir o
curso, em 2017.
“Apesar de ter sido uma decisão para ficar perto da Masha, foi a melhor
coisa possível! O meu orientador em Kent [Joe Diestel] foi muito legal, mas já
estava quase se aposentando. Já o Rosendal era superativo e gostei muito de
trabalhar com ele”, afirmou.
O matemático foi diplomado nos dois doutorados e se mudou para Toronto,
no Canadá, para um pós-doutorado na Universidade de York, em 2017. Neste
período, a mulher trabalhava como economista do Fundo Monetário Internacional
(FMI) e morava em Washington, DC, capital dos EUA. “Por dois anos, toda
segunda-feira eu voava para Toronto e voltava para Washington às quintas. Eu
fazia um voo internacional por semana”, explicou.
A experiência foi seguida de outro pós-doutorado, na Universidade de
Virginia (UVA), onde esteve por três anos. Voltou ao Rio em julho de 2022 para
dar aulas na PUC-Rio. “Meu sonho sempre foi voltar para o Rio e só não voltei
antes pela Masha, já que ela tinha uma posição muito boa no FMI. Assim que ela
conseguiu um emprego aqui como professora de economia do Ibmec, eu me
candidatei para alguns lugares e fui aceito como professor na PUC”, explicou.
Após seis meses na PUC, ele passou também para o IMPA. O carioca
descreve a experiência no instituto como “excelente” e enfatizou a importância
da infraestrutura e apoio da instituição. “Comecei em janeiro e já tive três
professores que vieram ao Rio trabalhar comigo, o que só foi possível devido ao
suporte do instituto.”
Ele também aprecia o movimento e a integração das pessoas no IMPA. “É
muito legal ver como existem muitos funcionários que estão aqui há décadas.
Mostra que é um lugar bacana para se trabalhar. O instituto está sempre
movimentado e as pessoas gostam de interagir. Acabei de passar um tempo longo
no norte do Equador, onde o normal era almoçar sozinho, cada um em seu
escritório.
No IMPA só almoça sozinho quem quer!”
Fonte: Impa
Link: https://impa.br/noticias/bruno-braga-e-atraido-pela-beleza-da-matematica/
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