Fuvest repete questão de matemática que caiu no vestibular de 1994, dizem professores
Coincidência
causou surpresa aos docentes. Enem 2018 também trouxe, em prova de
matemática, questão aplicada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
em 2013.
Professores de cursinhos apontaram que uma questão de matemática da
Fuvest 2019 realizada neste domingo (25) foi igual a uma questão da
prova realizada na edição do vestibular Fuvest 1994. A coincidência
causou surpresa aos docentes. Veja a questão:
"Em
uma família, o número de irmãs de cada filha é igual à metade do número
de irmãos. Cada filho tem o mesmo número de irmãos e irmãs. O numero
total de filhos e filhas da família é?"
O enunciado apresentava semelhança com o da prova promovida há 25 anos.
"Um
casal tem filhos e filhas. Cada filho tem um número de irmãos igual ao
número de irmãs. Cada filha tem o número o número de irmãos igual ao
dobro do número de irmãs. Qual é o total de filhos e filhas do casal?"
A diferença principal eram as alternativas.
“Foi uma surpresa para a gente, porque a questão tem exatamente o mesmo
enunciado. Exercícios parecidos sempre acontece. Inspiração acho que
não foi. Colocar o mesmo enunciado, sem mudar absolutamente nada é
impossível. Eles mantêm o mesmo padrão de exercícios de provas
anteriores, mas fazem mudanças consideráveis”, disse o professor Moisés
Rodrigues, do cursinho da Poli.
Rodrigues disse que a prova teve questões clássicas sobre sistemas e
duas de incógnitas e de funções. “Sobre a prova em geral, não foi
exigido temas que apareciam em provas anteriores, não teve nada de
geométrica analítica, não tem nada de polinômios, de trigonometria.”
O professor disse que geometria plana e espacial são temas recorrentes. “A surpresa mesmo foi a falta de geometria analítica.”
Segundo ele, “uma outra surpresa foram questões de análises de gráficos
e que os alunos não precisariam fazer conta, se ele olhasse o gráfico
já teria condições de responder, isso se aproxima um pouco do Enem.
Logaritimo é sempre cobrado e apareceu neste ano, mas com complexidade
abaixo dos três anos anteriores”, finalizou Rodrigues.
O professor Eduardo Jesus, dos cursinhos Hexag e Cursinho da Poli,
concorda com o colega ao analisar a prova da Fuvest deste ano. “Teve uma
questão repetida, o Enem também fez isso. É a Fuvest copiando a Fuvest.
Não acredito que enfraquece, mas não é uma coisa comum de acontecer em
prova da Fuvest. Essa foi Ctrl C e Ctrl V (copiar e colar). Pergunta
clássica sempre tem, mas não é o caso.”
Sobre a questão repetida de matemática, o professor disse que os alunos
podem ter tido facilidade em respondê-la. “Eu mesmo já usei essa mesma
questão em sala de aula com meus alunos.”
Segundo ele, a prova de maneira geral, não surpreendeu. “Faltou
geometria analítica, matriz não caiu, estava parecida com o Enem.
Surpreendeu pelo que não caiu nessa prova, faltou também número complexo
e polinômios.”
Candidatos fazem prova da Fuvest na FEA-USP — Foto: Celso Tavares/G1
Jesus acredita que a prova deu chances iguais para vestibulandos de
diversas aéreas. “Essa prova foi mais universal. Então, a prova de
matemática tem de dar chance para todo mundo. A prova teve igual
dificuldade para quem vai fazer letras ou engenharia. Agora é esperar a
segunda fase, que aí sim será mais específica.”
De um modo geral, Jesus acredita que a prova facilitou a vida do
vestibulando. “Teve as questões de probabilidades, achei uma prova
honesta, fazível. Foi uma prova mais fácil que nos últimos anos. Sempre
as provas de matemáticas são as mais difíceis, mas acredito que a prova
de matemática desse ano não deve ter surpreendido.”
Segundo Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo, a
"prova da Fuvest tem uma tradição de ser inteligente, sem pegadinhas,
não tem dúvida, ou sabe ou não sabe. Exigiu formação, domínio de
conceitos, não importa a disciplina."
Para ela, a prova inteira foi apoiada em conteúdo que o aluno aprendeu
no ensino médio. "Geografia é a que é mais foi interdisciplinar, fugiu
daquela geografia antiga, pediu capacidade de interpretar gráfico,
tabelas, imagens. Um aluno preparado fica feliz com uma prova assim."
Vera Lúcia disse também que “a prova como um todo premiou o aluno que
estudou. Não é uma prova dada de graça, teve de pensar. Física teve duas
mais trabalhosas, mas foram questões médias, os alunos conseguem fazer
facilmente. Em compensação, biologia foi uma prova bonita, tradicional,
sem novidades. Química da mesma forma, não tive um grau de dificuldade
grande.”
Sobre a questão repetida de matemática, ela disse que “é uma coisa que a
Fuvest tem de resolver. Essa de matemática repetida não prejudica o
todo. O raciocínio é o mesmo, mudou uma coisa ou outra, mas é a mesma
coisa.”
Ela finalizou dizendo que “a prova de inglês foi bem atual, apresentou
um texto difícil, mas teve uma abordagem reflexiva. Português exigiu
reflexão crítica em literatura, foi difícil, complexa, não é fácil para o
aluno, mas quem está preparado consegue fazer.”
A edição 2018 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe,
na prova de matemática, uma questão que já havia aparecido em outro vestibular, aplicado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2013.
Daniel Perry, coordenador do curso Anglo, disse que a prova da Fuvest
foi "elogiavel, em alto nível que cumpriu a missão de seleção dos mais
preparados".
Para ele, "no geral, a gente tem de elogiar a banca da Fuvest. Foi uma
prova bem elaborada, com enunciados claros e precisos, prova abrangente e
criativa. Essa criatividade da Fuvest é marcante, por exemplo,
matemática teve uma prova bonita, elogiável, porque trouxe questões
contextualizadas, exigia raciocínio e interpretação."
O coordenador falou que a prova de química foi bastante "conceitual, ao
invés de focar em cálculo, preferiu abordar conceitos. Foi uma prova
difícil."
Perry falou que a repetição da questão aplicada na prova de 1994 da
Fuvest não desmerece a avaliação. "De toda forma, não desqualifica o
exame, porque foi considerado criativo."
Nas questões de português, ele considerou mais fácil que as do Enem.
"Literatura foi mais complexa, porque exigiu conhecimento e fazer
correlações entre elementos. Geografia foi uma prova bem abrangente, com
temas clássicos, atuais, com destaque para a qualidade das
ilustrações."
Perry afirmou ainda que prova de história foi abrangente e com questões
bem elaboradas. "Três questões tinham fontes visuais, em uma dela pedia
conhecimento da obra expressionista e isso não é comum. Biologia não
deixou de conversar com a atualidade, foi interdisciplinar incluindo
temas de física e química."
O diretor do Poliedro, Rodrigo Fulgêncio, disse que a "Fuvest 2019 se
manteve no mesmo padrão dos últimos anos, ou seja, foi uma prova muito
exigente e conteudista."
Para ele, "foram questões que exigiam mais do que uma simples
interpretação de texto, ou seja, o aluno precisa ter estudado de maneira
profunda o conteúdo programático do Ensino Médio. As questões foram bem
objetivas, claras e com enunciados sucintos."
Fulgêncio avaliou que as questões de exatas se manteve em "altíssimo
nível". "Normalmente a matemática é a matéria cuja média é a menor entre
todas as disciplinas, e isto deve se manter este ano. A distribuição
entre os tópicos foi muito boa em todas as disciplinas, portanto foi uma
prova bem abrangente, o que leva a um elevado índice de discriminação."
O diretor afirmou ainda que a grande incógnita ainda é a nota de corte.
"Um ponto importante de ressaltar é a dificuldade em prever notas de
corte, que é uma grande preocupação dos vestibulandos neste momento. A
nota de corte não depende apenas do nível médio da prova, mas também da
dificuldade de cada questão, do nível dos candidatos deste ano e também
da distribuição de vagas para alunos cotistas."
O diretor pedagógico do curso Oficina do Estudante, Célio Tasinafo,
disse que é "apressado dizer que a prova da Fuvest manteve-se com a
mesma estrutura tradicional de anos anteriores. Certamente, o que se
pode afirmar é que foi uma prova que se modernizou, sem perder a sua
identidade."
Segundo ele, o aluno que levou a sério os estudo se deu bem. "Não
bastava só se manter antenado devorando notícias e estudos atuais ou se
alienar completamente em meio a números, nomes e dados."
Para Tasinafo, a avaliação da prova foi positiva. "A Fuvest trouxe
questões com temas atuais e que foram objeto de debate/polêmica ao longo
do ano de 2018, inclusive com utilização de textos publicados na
imprensa ao longo desse ano."
"A questão de língua portuguesa (Q. 62, Prova Q), que a partir de uma
propaganda do Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul, fez
referência direta às diferenças salariais entre homens e mulheres que,
infelizmente, ainda predominam no mercado de trabalho brasileiro (tema
que foi polêmica em nossa última campanha presidencial, inclusive com a
naturalização dessa situação discriminatória por parte de importantes
lideranças)". disse o diretor.
Para ele, a questão de geografia sobre o número de refugiados em 2017 e
seus principais países de origem (Q.5, Prova Q). "Problema que mobiliza
a opinião pública internacional e diferentes grupos defensores dos
direitos humanos, ainda que sem possibilidade de solução efetiva em
curto prazo."
Tasinafo disse ainda que "a prova promoveu um diálogo temático, não tão
usual, entre questões de diferentes disciplinas.Por exzemplo, as
questões 76 a 79 de inglês (prova V) sobre migração para os EUA e
questão 82 de história/artes (prova V) sobre a obra de L. Segall 'Navio
de Emigrantes' e a questão 34 (Prova V) de biologia sobre a cobertura
vacinal de doenças como sarampo, rubéola e poliomielite e a questão 63
(Prova V) de linguagens sobre o D de vacinação."
O diretor afirmou que as questões de física e matemática foram
exigentes. "Como sempre se espera da Fuvest. Exigentes e bem
tradicionais; além da cobrança de temas que parecem ter se tornado
exclusivo desse vestibular (perfis geomorfológicos e épocas geológicas).
Em suma, o aluno que não passou ao largo da época em que vive e ao
mesmo tempo estudou com afinco e de forma séria, foi o grande
beneficiado pela prova da Fuvest 1ª fase de 2019."
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