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Menos de 3% dos brasileiros alcançam nota suficiente para estar no nível 4 do Pisa em matemática (iStockphoto/VEJA) |
As reflexões sugeridas pela Olimpíada
Internacional de Matemática (IMO 2017), que está sendo realizada pela
primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro.
“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. Com esta frase, Machado de Assis concluiu o seu romance Quincas Borba.
A Olimpíada Internacional de Matemática (IMO 2017),
ora em curso no Rio de Janeiro, sugere pelo menos três reflexões.
Primeiro, cabe lembrar que Matemática é importante. No nível mais
elementar, requer saber que o sinal de igualdade (=) se refere a uma
equação em que as quantidades de cada lado se equivalem. Quantos
brasileiros sabem disso e de suas implicações? Para exercer a cidadania
no século XXI, precisamos dominar muitas competências matemáticas, que
vão da capacidade de contar, fazer estimativas, calcular porcentagens,
interpretar gráficos, avaliar se um determinado estudo se refere a uma
correlação ou a uma causalidade. O que se cobra no Pisa é essencialmente o que todos precisam saber.
Isso leva ao segundo ponto: o quanto os brasileiros sabem
disso, aos 15 anos de idade? Muito pouco – menos de 3% dos brasileiros
alcançam nota suficiente para estar no nível 4 do Pisa (Programa
Internacional de Avaliação de Alunos) em matemática – nível que reflete
os conteúdos mínimos necessários para serem considerados cidadãos matematicamente corretos. Dadas as atuais políticas educacionais em curso, não há previsão de que isso irá mudar nas próximas décadas.
Mas falemos de coisas boas. Olimpíadas são oportunidade de
celebrar os campeões, de premiar o esforço, a dedicação – e não
simplesmente o talento das pessoas. A Olimpíada Brasileira de Matemática
funciona como uma “fase eliminatória” para a Olimpíada Internacional.
Um brilhante estudo da recém-doutoranda Diana Moreira contradiz o “bruxo
das Laranjeiras” (Machado de Assis).
Na Olimpíada Brasileira de Matemática, são distribuídos
prêmios aos 4% melhores alunos das séries finais do ensino fundamental e
do ensino médio, com base nos resultados da Fase II do certame – que
reúne os 5% melhores da Fase I. Esses prêmios têm efeitos fantásticos:
os alunos premiados continuam a melhorar o seu desempenho. Mas tem muito
mais: seus colegas de escola também melhoram significativamente seus
resultados em anos posteriores. Importante: o prêmio é só um
reconhecimento, não há dinheiro envolvido.
Há batatas para todos – as batatas que um ganha também
alimentam os outros. Aos poucos, os economistas vão descobrindo e
revelando o que a humanidade já sabe há milênios, e a psicologia já
confirmou há pelo menos 70 anos. O termo “efeito vicário” é usado para
explicar esses fenômenos: prêmios e punições ao que uma pessoa faz levam
os outros a tirarem lições e modelar o seu caráter e o seu
comportamento.
Há duas lições importantes. Primeiro, é muito bom
reconhecer, valorizar, celebrar e premiar o bom resultado. Segundo, para
melhorar, precisamos conviver com pessoas melhores do que nós e
reconhecer que são melhores. Dessa forma, haverá mais vencedores e mais
batatas para todos.
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